pokerstars - Pelotas é a cidade mais úmida do Brasil? Moradores enfrentam mofo e doenças

A cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, ganhou espaço nas redes sociais na última semana depois que viralizou um vídeo com imagens do estrago que a alta umidade do ar causa em casas, portões, ruas e também nos moradores.
Muita gente comentou que a região parecia sempre estar com as ruas molhadas, algumas pessoas chegaram a dizer que a cidade é a mais úmida do Brasil e a segunda do mundo, atrás apenas de Londres, na Inglaterra.
Mas apesar de essa percepção ter sido ilustrada no vídeo com muitas imagens de mofo em paredes e até de vegetação que crescem em fios de alta tensão, segundo o INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), a cidade aparece no 24 º no ranking brasileiro, com média anual de 82,1% de umidade relativa do ar.
Ainda de acordo com órgão, as três cidades mais úmidas do país ficam na região Norte e são: Gabriel da Cachoeira e Fonte Boa, no Amazonas, e Belterra, no Pará.
Mofo frequente

Embora não esteja entre as primeiras do ranking, a umidade excessiva é percebida diariamente em Pelotas e prejudica seus moradores. É o caso de Pedro Antunes, de 33 anos, que vive na cidade há 21 anos.
Ele conta que o chão costuma ficar escorregadio e paredes e janelas estão quase sempre molhadas. "Em lugar que não pega muito sol, a chance é muito grande de ter mofo e manchas na parede", conta.
A professora Josiane Weege, de 43 anos, nasceu e morou sua vida inteira em Pelotas. Desde pequena, ela convive com paredes e tetos mofados com frequência. "A função de limpeza é bem complicada. No meu quarto tive que passar 'clorofina' (água sanitária) e só vou pintar de novo os cômodos no verão", diz.
Com a chegada do inverno, Josiane diz que ela e outros vizinhos torcem para que seja uma época fria e não úmida, pois essa sensação de estar sempre com tudo molhado é desgastante.
Mas mesmo no verão, a umidade incomoda e o calor úmido pode ser pior até do que o frio. "Faz a gente suar muito, ficar com o corpo 'melado' em praticamente todos os momentos", diz Pedro.
Vídeo que viralizou nas redes sociais:
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O que explica a umidade?
A umidade relativa do ar é a soma da pressão parcial com a pressão dos constituintes do ar seco. Na prática, é quanto de água na forma de vapor existe na atmosfera no momento em relação ao total máximo que poderia existir, em determinada temperatura.
A cidade de Pelotas tem aproximadamente 82% da quantidade de vapor d'água do máximo que poderia ter, numa escala de até 100%. O que explica essa característica é a condição geográfica e o solo.
Pelotas fica muito próxima do oceano Atlântico e fica costeada pela lagoa dos patos e maiores lagoas que vêm de Porto Alegre. Além dos arroios e canais de São Gonçalo, que ficam rodeados por muitas massas de água.
Eliana Klering, professora da Universidade Federal de Pelotas
O solo, classificado como de várzea, também contribui para isso, já que é bem arenoso. O vento favorece ainda mais esse fenômeno. "A gente tem pouca velocidade do vento e faz com que a sensação de umidade permaneça mais tempo. Por isso tem essa sensação permanente", explica a professora.
Frente frias frequentes
As frentes frias, que também são mais frequentes nesta região do país, contribuem para a umidade exacerbada. "A frequência de frente fria é muito maior tanto no verão quanto no inverno na região. E ela traz chuva e umidade", diz Micael Cecchini, professor do departamento de ciências atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP).
Em relação ao mofo, a alternância de dias quentes e frios impactam diretamente no surgimento dos fungos. Além disso, Pelotas sofre com construções muito antigas e que não são adaptadas para esse fenômeno. "As nossas construções não são feitas de maneira a diminuir ou minimizar os padrões de umidade que determinam as normas de protocolo de umidade", diz Eliana Klering.
Isso já é uma realidade há anos na cidade e, de acordo com os especialistas, não há uma solução prática a longo prazo. Eles ainda destacam que é cedo para falar que mudanças climáticas estão impactando esse processo.
Problemas de saúde

Quem sofre com alergias e problemas respiratórios tem dificuldade em permanecer na cidade. A gerente de projetos Joyce Koperek, de 39 anos, apresenta problemas como rinite alérgica e se queixa dos sapatos e roupas mofados. "Fica com cheiro ruim e provocam crises", diz. Ela também sofre com asma.
A alternativa para amenizar os sintomas causados pelo mofo é colocar roupas de cama e travesseiros no sol com frequência, além de usar essências vegetais em umidificadores em ambientes fechados.
Pedro também ressalta que sua filha sofria com problemas respiratórios devido à umidade e aos fungos. "Quando era menor, ela tinha que usar nebulizador para melhorar a respiração nessa época."
De fato, uma cidade muito úmida aumenta a incidência de doenças respiratórias, além de outros problemas de saúde.
Certas condições de saúde nos tornam mais suscetível aos efeitos negativos do calor e da umidade e podem causar uma reação física mais grave.
Stella Bozza Kapp, pneumologista
As condições que podem ser agravadas pela umidade são asma, DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), doenças cardíacas e pressão arterial alta, doença renal crônica, diabetes e alergias. Esse fenômeno climático provoca condições ideais para o crescimento de fungos e o ar úmido retém o pólen e outros irritantes.
No verão, a umidade pode potencializar os efeitos do calor, como fraqueza, sonolência e aumentar as chances de hipertermia. Já no inverno, ela propicia a reprodução de ácaros e fungos, responsáveis por desencadear crises de doenças respiratórias como rinite alérgica, bronquite e asma.
Para reduzir os impactos à saúde, é recomendado diminuir atividades intensas ao ar livre, verificar a umidade antes de sair de casa e manter-se sempre hidratado. Também é indicado escolher roupas leves e que sejam frescas.
"Optar por roupas mais folgadas, feitas de tecidos respiráveis, como algodão e linho. Roupas esvoaçantes permitem que o ar circule contra sua pele e evapore o suor em vez de prendê-lo. E escolha lençóis de algodão ou linho para um sono mais fresco e confortável", conclui a pneumologista.
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