pokerstars - Richarlison e as ruínas do sucesso

Quando Richarlison fez um gol de placa na Copa do Qatar sua vida mudou. Ele já era um profissional bem sucedido jogando na liga mais rica e badalada do mundo, mas ainda não era ídolo de uma nação. Com o gol, tudo se transformou.
Seu correto posicionamento político ganhou volume, virou ídolo absoluto em questão de dias. O gol foi visto e revisto incansavelmente. Anitta mandou mensagem pública. O garoto virou mania.
Mas o sucesso tem um custo. Um custo muitas vezes alto.
O sucesso que chega cedo na vida é mais perigoso porque ele invade uma pessoa ainda em formação. Richarlison tem 26 anos. É um jovem que veio de longe e alcançou a fama e a estabilidade financeira numa sociedade dentro da qual essa jornada é improvável. O comum no Brasil é que jovens negros e periféricos acabem mortos antes de virarem adultos.
Mas o destino dele seria outro. Para quem vê a história de fora para dentro tudo parece apenas magnífico. Só que vivê-la é outra coisa.
O sucesso traz com ele a ilusão de que tudo foi conquistado. Rapidamente percebe-se que não é assim nessa sociedade que cria e destrói ídolos com a mesma fúria.
Dinheiro e fama atraem aproveitadores, exigem atenção para saber como está sendo usado, pedem cautela. Se já é difícil aos 40 anos, imaginem aos 20.
Manter-se relevante é outro desafio. Depois daquele gol histórico vem o que? Como me sustento nesse lugar?
O sucesso traz ruínas com ele. Estar emocionalmente amparado é fundamental, mas poucos desses jovens boleiros estão.
Na seleção, agora com Diniz, Richarlison talvez encontre o amparo que precisa. Na vida fora da seleção, ele terá que ir buscar.
É por isso que é tão importante que seleções e clubes tenham um departamento de psicologia. A história de Richarlison não é única. Há inúmeras outras como a dele: jogadores que, de uma hora para a outra, viraram ídolos e se perderam nesse lugar.
Richarlison é um cara decente, é craque, tem tudo para dar a volta por cima. Torço para que ele encontre seu caminho e para que seja, finalmente, aquele ídolo com o qual sonhamos há tempos: alguém que, além de arrebentar em campo, não nos envergonha fora dele.
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