pokerstars - A vaia mais relevante já escutada no Maracanã

A torcida do Flamengo fez história durante o jogo contra o São Paulo ao vaiar a renda do jogo quando o valor apareceu no telão. Uma vaia orgânica, potente, exponencial e uníssona. Uma vaia como poucas antes dela. Uma vaia eloquente e cheia de significado.
Nem a partida sofrível que o time fez resultou em vaia tão agregadora.
Bastou que o telão exibisse a colossal renda de quase 30 milhões de reais para que, sem ser combinado, uma vaia arrebatadora rasgasse a transmissão.
Ingressos que chegavam a quatro mil reais foram vendidos para a final. Os mais baratos ficavam perto de 300 reais. A exuberante renda pode ser considerada por muitos como sucesso de uma gestão invejável. Caixas estão no azul. Sobra dinheiro. Sobra renda. Um time milionário. Viva a lei da oferta e da demanda contra a qual não se ousa argumentar.
O time da massa vendendo ingressos que vão de trezentos a quatro mil reais faz sentido para quem além de economistas liberais?
No Brasil, encarecer é embranquecer porque, considerados os quatro séculos de escravidão e a falta de políticas públicas de inclusão e reparação, não se separa classe de raça.
No Brasil, encarecer é embranquecer.
Encarecer é, portanto, um projeto racista na base.
E a torcida do time mais popular do Brasil nos fez o favor de vaiar a renda dizendo categoricamente que é contra esse processo covarde que alguns chamam de gestão.
Adianta ter dinheiro sobrando e desmobilizar o melhor elenco do Brasil? Adianta ter dinheiro sobrando e sacar da cena o geraldino que dava o tom ao jogo terreirizando o estádio? Adianta ter dinheiro sobrando e formar uma torcida de teatro?
A torcida do Flamengo talvez não saiba mas ela estava vaiando o capitalismo em sua mais perversa e recente versão, o neliberalismo.
Uma vaia que varreu os ares e penetrou pelos tímpanos de todos os que estavam lá ou em casa. Uma vaia poderosa, eloquente, reveladora.
Uma vaia que, se escutada com atenção, ajuda a resgatar todos os que amam o futebol como movimento social e não como mais um negócio liberal.
O Rio de Janeiro é a segunda capital com mais negros no Brasil, só atrás de Salvador.
-- Luan Araujo (@luanaraujo90) September 18, 2023
Mas essa foto da torcida do Flamengo ontem mostra que esse povo preto está excluído do estádio. O recorte racial e o recorte de classe andam juntos pic.twitter.com/4wlfxh4iz9
Deixe seu comentário