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Quem vai amar quando a adolescência chegar? Acolhimento na tempestade

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"Os adolescentes são o grupo menos amado de nossa nação." Essa frase é parte de um texto chamado "Sendo um Menino", escrito por bell hooks e traduzido por Carol Correia.
Embora a autora tenha elaborado essa reflexão a partir de um contexto norte-americano, não acredito que ela esteja tão distante do que vivemos no Brasil com relação às adolescências.
Concordo com hooks: adolescentes são mesmo o grupo menos amado de nossa nação. E isso é possível perceber em nossos próprios discursos quando dizemos que "essa juventude está perdida" ou no trocadilho de "aborrecente", sugerindo que adolescência é a fase que serve para aborrecer.
Não estou dizendo que somos super-respeitosos com as crianças. Amar crianças também é uma tarefa difícil para muitas pessoas adultas, sobretudo aquelas que compreendem a infância como a fase dos seres incompletos e objetos dos adultos. Nós também temos muito que aprender sobre amar e proteger crianças. Contudo, em alguma medida, a dependência das crianças parece causar uma espécie de massagem no ego adulto. Como se, no fundo, gostássemos de saber que sem nós as crianças não conseguiriam viver.
Já adolescentes geram o oposto: uma sensação de que o adulto vai se tornando desnecessário e, pior, vai sendo questionado em seu lugar de poder e saber absoluto.
Ainda no texto mencionado, bell hooks diz: "Os adolescentes costumam ser temidos precisamente porque frequentemente expõem a hipocrisia dos pais e mães e do mundo ao seu redor".
Quando as crianças vão crescendo e se tornam adolescentes, começam a se perguntar se tudo que as famílias e a sociedade lhes ensinou é mesmo verdade e nada gera mais incômodo em uma figura cheia de privilégios do que ter seu poder questionado.
Adolescer e questionar as leis de dentro de casa acaba sendo visto por pessoas adultas não como um processo esperado dessa fase, mas como uma afronta e ingratidão. "Eu te dei comida, eu troquei suas fraldas para você crescer e me tratar assim?"
A adolescência é uma fase que precisa ser vivenciada de forma coletiva. Ter adolescente em seu convívio é como mergulhar num oceano que, às vezes, enfrentará uma tempestade. Não se trata de um passeio de pedalinho num rio calmo. É oceano, é profundo e depende muito do tempo.
Acolher adolescentes é, em alguma medida, olhar para um espelho que nos mostrará parte de nossa face que não queremos ver, mas que precisamos sustentar e encarar.
Nós não podemos abandonar adolescentes à própria sorte nesse oceano de hormônios, expectativas, mudanças e afetos novos. As tempestades de medos, revoltas e raivas precisam de nossa coragem e calma para aproximar e lidar com elas.
Não é fácil, não é mesmo, mas ao menos precisamos nos propor a tentar.
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