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Gustavo Cabral

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Própolis melhora imunidade e inflamação em pessoas com HIV, sugere estudo

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Colunista do pokerstars

17/07/2023 04h00

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Acredito que é cada vez mais necessário que mostremos os trabalhos científicos desenvolvidos no Brasil, para que a sociedade tenha uma melhor compreensão do quanto isso pode melhorar nossa qualidade e condição de vida. E é claro que falar sobre produtos naturais e suas ações em nosso organismo não poderia passar em branco, principalmente quando são produtos utilizados por grande parte da sociedade, como é o caso do própolis.

Por isso, quero citar o trabalho científico de um grupo de pesquisadores da Unesp de Botucatu (SP) sobre o uso de própolis em pacientes com HIV. Isso chama atenção pois esse vírus tem uma capacidade terrível de afetar o funcionamento do sistema imunológico. Portanto, a busca de compostos naturais que possam ajudar os pacientes é de extrema relevância.

A pesquisa também abre uma possibilidade para estudos futuros: se o própolis pode causar uma melhora nas pessoas com imunodeficiência, como será com aquelas que precisam apenas de um adjuvante, uma ajuda? Aproveito essa colocação para dizer que o estudo não é para substituir qualquer tratamento, mas, sim, para complementar o método terapêutico convencional.

No artigo publicado pela equipe de pesquisa da Unesp de Botucatu, com apoio da Fapesp, há uma parte que destaca os compostos da própolis. "Sua composição depende das localizações geográficas, fontes de plantas ou espécies de abelhas, e inclui resina, cera, bálsamo, óleos essenciais, metabólitos primários e secundários de plantas (fenólicos, aminoácidos, minerais, vitaminas, terpenóides, taninos e alcalóides)", explicam os autores.

O estudo também diz que a própolis é uma das fontes mais abundantes de polifenóis e é conhecida pelas suas inúmeras propriedades terapêuticas, como a ação imunomoduladora, anti-inflamatória, antioxidante, antimicrobiana e antiviral.

Bom, depois desse parágrafo, é claro que temos que falar mais da pesquisa científica com a própolis.

Para isso, conversei com Karen Ingrid Tasca, a primeira autora deste trabalho. Ela é bióloga, mestre e doutora em Doenças Tropicais e Imunologia pela Unesp, e atualmente faz o pós-doutorado no departamento de infectologia da Faculdade de Medicina da Unpesp de Botucatu, além de coordenar ensaios clínicos da unidade.

Gustavo Cabral: Karen, como foi que vocês delinearam esse estudo?

Karen Tasca: Sentimos a necessidade de investigar a ação da própolis nas pessoas que vivem com HIV/aids, pois, apesar de elas terem qualidade de vida com os avanços terapêuticos —e expectativa de vida quase igual à de pessoas que não vivem com o vírus—, elas enfrentam um processo conhecido como envelhecimento precoce, que reflete no desenvolvimento de comorbidades não aids de forma mais precoce e mais frequente nesta população. Além disso, também ocorre imunossenescência, que é o envelhecimento do sistema imunológico) precoce.

Por isso, delineamos um estudo de intervenção com própolis para essas pessoas, já que esse composto resinoso possui diversas propriedades interessantes: anti-inflamatória, antioxidante e antimicrobiana. Além disso, já é um produto comercializado e bem conhecido.

No momento de delinear a pesquisa, que foi randomizada, duplo cega e controlada por placebo, não encontrávamos na literatura muitos estudos clínicos. Utilizamos estudos in vitro e experimentais para definirmos a metodologia, e começamos a encontrar estudos com diabéticos, que utilizavam a dosagem de 500mg.

Adotamos a mesma concentração diária e, em parceria com uma empresa reconhecida, iniciamos nosso estudo. É importante salientar que houve acompanhamento nutricional dos participantes, pois precisávamos nos certificar que não haveria mudança no estilo de vida deles no período de três meses de intervenção.

Este foi o projeto de pós-doutorado que desenvolvi sob supervisão do professor José Maurício Sforcin, do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu, e ele foi parte também de uma tese de doutorado, de autoria do Fernanda Lopes Conte. Tivemos também financiamento para a aluna de iniciação científica da época, a nutricionista Ana Claudia de Moura Moreira Alves, e contamos com auxílio de agências de fomento (Fapesp e Capes) e de diversos colaboradores, o que nos permitiu desenvolver e finalizar este estudo.

Gustavo: Os resultados obtidos foram o que vocês esperavam? O que você destaca nesses resultados?

Karen Tasca: Esperávamos encontrar redução significativa do estresse oxidativo e inflamação no grupo que recebeu própolis, e os nossos resultados mostraram essa melhora, mas de forma sutil: após os três meses, houve diminuição de malondialdeído, um produto de peroxidação lipídica, e aumento da capacidade antioxidante total.

Esse foi um resultado muito bom, apesar de não termos encontrado diferença em outros marcadores estudados. Vimos também que a própolis foi capaz de aumentar a proliferação de linfócitos T, que são os alvos do HIV. Além disso, observamos maior expressão do fator de transcrição FOXP3, que está presente em células T chamadas regulatórias, ou seja, um subtipo celular responsável por controlar a inflamação.

Ou seja, algo bem interessante foi a melhora no sistema imune. Os participantes desse grupo também mostraram aumento de magnésio, o que também pode ser benéfico para a saúde.

Gustavo: E vocês continuam pesquisado a própolis com outros objetivos?

Karen Tasca: O laboratório de imunomodulação por produtos naturais sempre teve como linha de pesquisa estudos com própolis. No entanto, esta foi a primeira vez que o grupo trabalhou com pesquisa de intervenção em seres humanos. Temos a intenção de realizar outros estudos clínicos, mas ainda são ideias que precisam ser amadurecidas.

Gustavo: Gostaria de parabenizar pelo trabalho e te pedir que concluísse essa matéria falando um pouco sobre produtos contendo própolis e suas diferenças no mercado.

Karen Tasca: Cabe falar sobre a diversidade de produtos contendo própolis no mercado. São produtos diferentes em relação aos seus componentes, pois as abelhas utilizam a vegetação para produzir a própolis, e nossa flora é muito diversificada; e padrão de qualidade, já que nem todos utilizam o mesmo método de extração nem possuem caracterização dos componentes e padronização dos produtos.

Ademais, poucas empresas investem em ensaios de segurança antes de colocar o produto no mercado, devido a própolis já ser um produto comercializado em larga escala.

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