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Problemas com a libido, mulher? Pode ser efeito do remédio que você toma

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Imagem: Getty Images

Renata Turbiani

Colaboração para VivaBem

17/05/2021 04h00

A falta de desejo sexual nas mulheres pode ter uma série de causas, tanto psicológicas quanto fisiológicas, como estresse, cansaço, problemas no relacionamento, alterações hormonais, menopausa,consumo excessivo de álcool e doenças (depressão,hipertireoidismo, hiperprolactinemia e obesidade são algumas delas). Mas também pode ser um efeito colateral pelo uso de certos medicamentos.

Essa condição tão indesejada —e mais comum do que se imagina— não é muito estudada e ainda hoje é pouco falada, inclusive entre pacientes e médicos. Alguns dos principais responsáveis por ela são os anticoncepcionais e os antidepressivos. Ainda entram na lista ainda anti-hipertensivos, anticonvulsivantes, anti-histamínicos (ou antialérgicos), ansiolíticos e antipsicóticos.

  • Anticoncepcional

Anticoncepcional - iStock - iStock
Imagem: iStock

As pílulas anticoncepcionais hormonais encabeçam a lista de fármacos em que há o risco de perda de desejo. "Os progestágenos sistêmicos, e há uma vasta gama deles com diferentes propriedades (estrogênicas, antiestrogênicas, androgênicas e antiandrogênicas), provocam esse efeito devido à supressão da função ovariana e da produção de estrogênio endógeno, que é um dos hormônios responsáveis pela libido feminina", explica Michele Melo Silva Antonialli, doutora em farmacologia e professora das disciplinas de farmacologia, atenção farmacêutica e farmácia hospitalar da Universidade São Judas Tadeu e farmácia hospitalar, farmacoterapia e saúde pública do Centro Universitário São Camilo, ambos em São Paulo.

Outros efeitos causados pelo fármaco que podem estar associados ao problema, acrescenta a especialista, incluem ressecamento vaginal, diminuição da lubrificação, sintomas do assoalho pélvico, como dispareunia (dor na relação), incontinência urináriaecistite intersticial. Isso acontece porque ele altera as características do muco cervical.

Além disso, com o uso dos contraceptivos ocorre uma significativa diminuição na produção de testosterona, hormônio considerado masculino, mas que também está presente nas mulheres —em menor quantidade—, e que tem como uma de suas funções estimular o desejo.

"O anticoncepcional normalmente aumenta na corrente sanguínea os níveis da proteína SHBG (responsável pela ligação e transporte dos hormônios sexuais), fazendo com que se tenha uma menor quantidade de testosterona circulante e provocando a redução de libido associada", indica Karina Belickas, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade Santa Joana e da Maternidade Pró Matre Paulista.

  • Antidepressivo, ansiolítico e antipsicótico

Antidepressivo - iStock - iStock
Imagem: iStock

Mais uma categoria de remédios que têm como efeito colateral a falta de apetite sexual é a dos psiquiátricos. No caso dos antidepressivos, estudos realizados mundo afora sugerem que quase 73% das pessoas que os consomem apresentam esse efeito colateral.

"Toda medicação, principalmente as que agem no sistema nervoso central, e as psiquiátricas agem, podem interferir em várias instâncias do desejo. No caso dos antidepressivos, eles aumentam a serotonina, um neurotransmissor que está relacionado com a sensação de saciedade. Quimicamente, essa ação faz com o cérebro se sinta saciado e tenha menos impulsos para buscar qualquer atividade que seja prazerosa", diz Marcelo Allevato, psiquiatra e coordenador da Comissão de Educação em Psicofarmacologia da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).

O médico pontua que, ao mesmo tempo em que as drogas para tratamento da depressão aumentam o nível de serotonina, diminuem a ativação de outros dois neurotransmissores, dopamina e noradrenalina (ou norepinefrina), sendo que o primeiro está ligado à excitação e ao prazer e, o segundo, à concentração e ao humor.

É importante ressaltar que existem várias classes de antidepressivos e algumas são mais associadas à reação adversa em questão. De acordo com Antonialli, os inibidores seletivos da recaptação da serotonina, como a fluoxetina, são os mais comumente envolvidos.

Os ansiolíticos, usados no tratamento da ansiedade, também podem ter influência sobre a libido, pois diminuem a reatividade do sistema nervoso central a estímulos prazerosos.

No caso dos antipsicóticos, indicados para os casos de psicoses, em especial a esquizofrenia, e outros distúrbios psíquicos devido à sua função sedativa, eles agem como antagonistas de alguns receptores de dopamina e serotonina.

  • Anti-hipertensivo

Aparelho digital para medir pressão arterial; hipertensão; pressão alta - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Apesar de muita gente não saber, os anti-hipertensivos betabloqueadores também reduzem o apetite sexual, já que, assim como os fármacos psiquiátricos, têm atuação no sistema nervoso central e na área do cérebro responsável pela libido.

"Esse efeito é mais pronunciado nos homens, mas pode atingir as mulheres", comenta Antonialli.

Outro medicamento utilizado para controle da pressão arterial capaz de prejudicar a vida sexual feminina é a espironolactona, um diurético poupador de potássio.

Como explica a doutora em farmacologia, por sua estrutura química ser semelhante aos esteroides, pode bloquear os seus receptores, como a progesterona e a testosterona, e com a redução da ação desta segunda há o risco de diminuição do desejo.

  • Anticonvulsivante e anti-histamínico

Remédio contra alergia - EHStock/iStock - EHStock/iStock
Imagem: EHStock/iStock

Alguns anticonvulsivantes (usados para tratamento e prevenção de crises convulsivas e epiléticas) e anti-histamínicos (usados para tratamento de alergias) também são capazes de interferir nas funções sexuais. Uma das explicações está nos seus efeitos sedativos.

"Os anticonvulsivantes diminuem a atividade de alguns grupos neuronais. Por definição, são inibidores na neurotransmissão", informa Allevato.

No caso do segundo grupo, Belickas complementa que ele tem efeito sobre o sistema nervoso central, o que eventualmente pode estar associado ao bloqueio ou redução na produção dos hormônios sexuais e, por consequência, a queda na libido.

O que pode ser feito?

Apesar da perda de apetite sexual ser um efeito colateral comum dos medicamentos destacados, é preciso ficar claro que nem toda mulher que tomá-los vai desenvolver.

"Infelizmente, algumas são mais suscetíveis a essa reação, principalmente as com baixos níveis de testosterona e estrógeno, o que é mais comum de acontecer no período do climatério e peri-menopausa", afirma Antonialli.

Allevato acrescenta que o contexto psicológico e social pelo qual a paciente passa também interfere: "Acreditamos que haja uma base genética, mas o momento de vida é um fator importante nesse processo".

Mais um ponto que precisa ser enfatizado é que ter a vida sexual prejudicada pelo uso de um remédio não deve ser encarado como algo normal, afinal, essa é uma reação adversa e que merece cuidados. O primeiro deles começa ainda antes do consumo: a paciente tem de ser informada sobre esse possível efeito assim que receber a receita, assim, não será pega de surpresa.

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Imagem: Prostock-Studio/Getty Images/iStockphoto

Com a condição instalada, aí é preciso procurar o profissional da saúde que fez a prescrição, e o mais breve possível.

"O que vemos, muitas vezes, é a mulher, na tentativa de reverter o quadro, buscar recursos controversos e sem evidência ou então interromper o uso do medicamento. Só que o ideal é conversar com o médico, é imprescindível que se tenha a liberdade de relatar para ele essa dificuldade", afirma Sandra Cristina Poener Scalco, vice-presidente da Comissão Nacional Especializada de Sexologia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

A especialista salienta que, por constrangimento, muitas deixam de abordar o assunto nos consultórios. E, os médicos, por receio, falta de tempo para uma anamnese mais completa e até desconhecimento, acabam fazendo o mesmo.

Para minimizar a influência do remédio sobre o desejo e, em especial, para que o tratamento não seja abandonado, há algumas táticas que podem —e devem— ser adotadas. Mas, atenção, somente o especialista responsável pelo caso poderá determinar qual a melhor.

Uma delas, apesar de não ser a mais popular, é aguardar um tempo, que pode ir de semanas a meses, para ver se o efeito desaparece. Uma segunda é reduzir a dose, chegando a um mínimo eficaz para o combate à doença principal e sem alterações no apetite sexual.

O psiquiatra finaliza: "As mulheres precisam saber que é possível administrar e reverter a condição e que a prioridade deve ser sempre manter o tratamento, para que ela tenha uma melhor qualidade de vida".


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