Eles escolheram viver um amor após os 50 anos: 'Tenho meus contatinhos'
Gabriele Maciel
Colaboração para o VivaBem
14/11/2023 04h00
Frequentemente, as histórias de amor de filmes e novelas enaltecem a juventude e as paixões arrebatadoras. No entanto, um número crescente de pessoas na faixa dos 50 anos está embarcando em jornadas amorosas que quase nada têm a ver com esse amor romântico retratado nas telas. No Brasil, cerca de 6 milhões de pessoas com 50+ se encontram solteiras, viúvas ou divorciadas, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). Essas pessoas, segundo versos da artista brasileira Elisa Lucinda, se dispõem ao "banquete de amar de novo".
"Não é como viver um relacionamento aos 20 anos porque há um histórico do que se viveu, que tanto vai contrastar com a relação atual como fundamentalmente vai servir de background", afirma o psicanalista Carlos Mendes Rosa, que é professor da UFT (Universidade Federal do Tocantins).
A perspectiva do tempo, segundo a psicoterapeuta sexual Carla Cecarello, proporciona um valioso aprendizado a respeito do que funcionou bem e do que não deu tão certo e geralmente isso proporciona relacionamentos mais tranquilos.
"Com essa idade, o autoconhecimento permite que tenhamos uma clareza maior sobre nossos desejos e sobre os limites que estamos dispostos a flexibilizar por alguém", explica Cecarello, que é mestre em ciências da saúde pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Em busca de um novo amor
Sem a ilusão de um relacionamento perfeito ou a prerrogativa de gerar descendentes, ter um date aos 50 anos não é apenas sobre encontrar um novo amor, mas também sobre desfrutar de uma companhia agradável.
A aposentada Lúcia Miranda, 58, conta que depois de ter ficado viúva aos 32 e de ter se relacionado com outro homem por 18 anos, não hesita em puxar papo com homens. "Às vezes, numa conversa despretensiosa, você conhece alguém interessante e pode rolar alguma coisa", comenta Lúcia, para quem a maturidade também a deixou mais seletiva.
"Não dá para aceitar qualquer pessoa na minha vida. Sei o que quero e não abro mão de quem sou", reflete. Apesar disso, Lúcia diz que tem conseguido conhecer pessoas interessantes. "Tenho meus contatinhos", revela.
Aos 57 anos, a advogada Adriana Ramos viveu uma cena inesperada quando, uma década após seu divórcio, foi pedida em casamento. O cenário ensolarado à beira do mar e a empolgação do seu então namorado, com quem estava há seis anos, dissiparam qualquer hesitação.
"Não dava para fingir que esse momento não tinha acontecido e eu resolvi deixar o medo de lado para apostar todas as fichas. Só vivendo para saber se algo vai dar certo", argumenta. O casamento aconteceu no ano passado e contou com vestido de noiva, juras de amor e a presença das netas como daminhas.
"Não fui feita para morar sozinha, gosto de ter alguém para compartilhar a vida e ter ele ao meu lado me faz muito feliz", declara.
Singularidades de viver um relacionamento com 50+
Na faixa etária dos 50 anos, situada entre a velhice, que geralmente começa por volta dos 60 anos, e a adultescência, quando se atinge a faixa dos 40 e se está no auge da produtividade, as pessoas ainda mantêm uma considerável vitalidade. No entanto, nessa idade já é comum aparecerem alguns desafios relacionados ao envelhecimento.
Amenopausa nas mulheres, por exemplo, pode provocar sintomas como ressecamento vaginal, enquanto os homens podem enfrentar dificuldades na obtenção de ereção. No entanto, essa fase da vida também é marcada pela quebra de tabus e preconceitos, permitindo que as pessoas vivam sua sexualidade com mais liberdade.
Lúcia, por exemplo, relata que se sente mais segura e à vontade agora que está com 58 anos do que quando tinha 20. "Uma vez que você se ama, as coisas fluem, você exala isso para o outro", acrescenta.
Por outro lado, os profissionais ouvidos pelo VivaBem, argumentam que é preciso disposição para eventualmente lidar com traumas de relações passadas "ou corremos o risco de projetar expectativas não atendidas sobre a nova pessoa", pondera Rosa.
O empresário Luiz Farinelli, 58, planejava ficar sozinho e aproveitar a liberdade depois de terminar um casamento que durou 29 anos. Mas a reaproximação com uma colega de faculdade lhe fez rever os planos. "Ela também tinha acabado de se separar e passamos a conversar muito. Foi aí que fomos percebendo uma grande afinidade."
A conexão foi tanta que eles passaram a namorar e logo foram morar juntos. Problemas do antigo casamento, como a falta de diálogo, de cumplicidade e de vida sexual, foram superadas e hoje ele se diz satisfeito com a nova relação. "Somos muito companheiros e estamos abertos a entender as demandas um do outro", diz.
Dicas para quem deseja começar a se relacionar nessa fase da vida
Use a tecnologia a seu favor: aplicativos de namoro e sites especializados podem ser ótimas ferramentas para conhecer pessoas. Eles oferecem a conveniência de se conectar com outros solteiros e podem ser adaptados às suas preferências.
Seja honesto consigo mesmo e com os outros: seja claro sobre o que você deseja em um relacionamento e não hesite em compartilhar seus valores e expectativas com potenciais parceiros.
Aprenda com o passado: suas experiências anteriores podem fornecer lições valiosas. Reflita sobre o que funcionou e o que não funcionou em relacionamentos passados para tomar decisões mais informadas.
Conheça a si mesmo: antes de iniciar um novo relacionamento, é importante ter um bom entendimento de quem você é, quais são seus valores, interesses e objetivos de vida. Isso ajudará a encontrar alguém compatível. "Essa ideia de que os opostos se atraem não é verdade. Isso pode acontecer em raros casos, mas o ideal é buscar pessoas com afinidades porque isso contribui significativamente para que o relacionamento seja saudável, divertido e participativo para ambos", diz Cecarello.